ARTIGO: CORAGEM MEUS CONTERRÂNEOS BAIANOS. DIAS MELHORES VIRÃO.
Foi no ano de 1947. Eu tinha apenas sete anos de idade quando uma enorme e pavorosa enchente atingiu a cidade de Itabuna na Bahia. A nossa casa era uma vivenda humilde de paredes de taipa. Estávamos reunidos na pequena sala quando presenciamos, movidos de horror, o desmanchar de um lugar que construímos com muito trabalho e sacrifício. Éramos pobres demais. As chuvas torrenciais encharcaram a estrutura e tudo veio a baixo. A cobertura era em parte de telhas de zinco e essas ficaram sustentadas pelos fragmentos de madeira que teimavam em manter-se de pé. Todos fomos salvos por determinação de Deus.
O rio Cachoeira não inundou também aquele humilde lugar porque ficávamos na parte mais alta do bairro do Pontalzinho. Tudo em volta estava inundado. Muitos de nossos vizinhos se foram, levados pelas águas furiosas do rio, bem como todos os seus pertences. Fomos recolhidos e levados para um abrigo num barracão às margens da linha do trem junto a essa praça que hoje tem o Forum. Lá ficamos até que foi possível ter ajuda dos governantes, da época, para reconstruir uma nova e pequena casa.
Enquanto estávamos vivendo de maneira provisória em um lugar onde havia muitas famílias, nos alimentávamos com as doações provindas das pessoas generosas que nos servia pela manhã um café com um pão, no almoço uma mistura de feijão com arroz e de vez em quando um pedaço de carne. E assim ficamos por seis meses, nesse lugar, desprovidas de tudo que um ser humano precisa para as suas necessidades diárias.
No ano que antecedeu esse acontecimento a minha família tornou-se membro da primeira Igreja Batista que ficava nas proximidades e, uma vez por semana, podíamos tomar um banho rápido depois de enfrentar longa fila. Sobrevivemos, embora as lembranças não tenham se apagado.
Desde que os noticiários nos informaram dessa catástrofe fiz-me solidária aos meus queridos conterrâneos. Dei uma contribuição monetária, como também tenho orado a Deus para que tudo volte ao normal em breve.
Lembrem-se de que vocês não são os únicos no planeta terra que estão passando por esse sofrimento. O mundo está em aflição permanente. Problemas da natureza e outros, talvez, bem maiores, como a falta de solidariedade, amor, compreensão de alguns humanos está deixando esse mundo cruel. As agressões físicas e emocionais que acontecem diariamente, em todos os lugares, com muitos indivíduos, nos conscientiza estar a vida sem o valor que ela merece. Acreditar em Deus e orar, diuturnamente, é a meu ver, a única solução que nos resta.
Por outro lado, por toda a história da humanidade a vida foi marcada por grandes e terríveis acontecimentos. Sobreviver nesse mundo é um desafio constante. Precisamos de muita coragem para não se perder a fé por dias melhores. Há, ainda, muitas pessoas que se compadecem das angústias do seu próximo e tudo fazem para minorar os impasses que se acometem. Como o mundo está a cada dia menor com a tecnologia as notícias chegam rápido a todos os lugares. Bem aventurados são aqueles que ainda não perderam a magnitude de ser humano e se mobilizam para ajudar os necessitados. Tenham consciência de que em breve tudo passará e vocês voltarão a viver em outros termos. Nada é permanente neste mundo.
Finalmente, gostaria de lembrar aos meus conterrâneos que estive em Itabuna no final de outubro de 2019, depois de 61 anos de ausência, onde fui homenageada pela Câmara de Vereadores pelas minhas obras literárias que estão espalhadas pelo mundo.
Não poderei e nem deverei esquecer as minhas raízes e creiam que estarei com todos vocês em minhas orações e tenho certeza que quando pedimos alguma coisa para Deus com fé, humildade e confiança Ele nos atende. Coragem meus queridos conterrâneos. Haverá, em breve, um novo amanhecer onde o sol voltará a brilhar. Um grande abraço para todos com muito carinho.
Elilde Browning
Professora e escritora.