Pastor Isidório leva bebê reborn ao plenário e reforça debate sobre vínculos afetivos e saúde mental
Gesto do deputado baiano expõe o crescente apego emocional a bonecas hiper-realistas e levanta questionamentos sobre saúde mental
O deputado estadual Pastor Isidório (Avante-BA) voltou a surpreender o público esta semana ao levar uma bebê reborn, boneca hiper-realista que imita com perfeição um recém-nascido, para o plenário da Assembleia Legislativa da Bahia. Durante seu discurso, o parlamentar usou o boneco para fazer um alerta sobre crianças reais que estão em situação de vulnerabilidade. “Brinquem com seus bonecos e bonecas, mas sem querer importunar o SUS, ou padres e pastores para ter que abençoar seus objetos de silicone”, declarou.
O ato chamou atenção não apenas pelo simbolismo religioso, mas por refletir uma tendência crescente: o vínculo afetivo real de muitas pessoas com essas bonecas.
Recentemente, uma mulher levou um bebê reborn a uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) na Bahia, exigindo atendimento médico para o boneco. Casos como esse, antes isolados, agora se tornam frequentes, gerando perplexidade, curiosidade e preocupação. Esses bonecos realistas surgiram como itens de coleção, mas com o tempo passaram a ser utilizados para amenizar dores emocionais: mães que perderam filhos, mulheres que não conseguiram engravidar ou pessoas solitárias encontram nos reborns uma forma simbólica de afeto.

Lara Maderi, graduada em psicologia, afirma que estamos vivendo um tempo em que as conexões reais estão cada vez mais raras, e as pessoas vão tentando preencher esse vazio de algum jeito. “Os bebês reborns entram justamente nesse lugar: não são só bonecas, são quase uma tentativa de criar uma experiência emocional, como se fosse um bebê de verdade. Pra muita gente, é uma forma de lidar com sentimentos difíceis, como solidão, perda, ou até um desejo profundo de afeto.”
Mas ela faz um alerta, “Tudo bem, quando isso serve como um apoio, um alívio, um tipo de cura. O problema começa quando essa ligação vira uma espécie de fuga da realidade, quando a pessoa começa a tratar essa boneca como se fosse realmente um ser vivo, com rituais e enfermidades… A gente se afasta das relações reais, dos vínculos de verdade. E aí o afeto, que é o que todo mundo busca no fim das contas, acaba ficando ainda mais distante”, conclui Lara.
O caso do deputado, a mulher na UPA, e tantos outros que circulam nas redes, apontam para uma realidade mais profunda: há um vazio emocional coletivo sendo preenchido com representações simbólicas. Para alguns, uma ferramenta de superação. Para outros, um indício claro de que algo não vai bem.